Apparuit benignitas et humanitas Salvatoris Domini Nostri Dei (Tito, III, 4)
O nascimento do Menino Jesus enche inevitavelmente de alegria espiritual a alma do católico devoto. Enche a alma de alegria porque ela compreende que a posse do bem supremo almejado após a revelação – a visão de Deus face a face – torna-se novamente possível com a vinda do Menino Deus ao mundo.
No estábulo, de modo semelhante ao seu sono na barca, Nosso Senhor Jesus Cristo parece alheio ao que acontece e parece mais sofrer os acontecimentos do que propriamente dispô-los e ordená-los segundo a sua vontade. Não obstante, é justamente o contrário que ocorre: é Ele o Mestre da História. É Ele a causa primeira de todo bem e é Ele que permite um mal para que daí possa vir um bem maior, para que possa advir um bem que manifeste ainda mais perfeitamente suas perfeições.É a alegria de uma esperança bem fundada, pois baseada na misericórdia divina, que deseja nos tirar da miséria do pecado. É a esperança fundada no amor de Deus para com os homens, capaz de fazer sofrer o Verbo Encarnado desde o momento de seu nascimento, a fim de nos salvar. É a esperança de ver que a vontade divina de que nos salvemos não é mera veleidade, mas uma vontade que de fato emprega meios abundantes para tanto. É a esperança de ver que a essa caridade e a essa misericórdia infinitas de Deus para com homens está unida a sua onipotência e a sua providência.
Na noite do Natal, vemos que o Menino Jesus é o Senhor do Imperador Augusto, dispondo que ele ordene um censo, a fim de se cumprir a profecia de seu nascimento em Belém. Assim como Ele é o senhor do Imperador, Ele é o Senhor dos Anjos, de todos os homens, dos animais, dos astros, de todas as coisas. Reclinado na manjedoura o Menino Jesus, sendo Deus, governa tudo e ordena tudo ao fim querido pela Santíssima Trindade quando da criação: a maior glória do Deus Uno e Trino. O Menino Jesus governa tudo e dispõe tudo de modo suave, mas também forte, como nos diz o Concílio Vaticano I.
É esse o espírito de esperança que deve nos animar no bom combate pela fé católica, pelas sãs filosofia e teologia. Oportet haereses esse, nos diz São Paulo (I Cor XI, 19), e isso para que um maior bem possa advir. O bem da fé provada e encontrada pura. O bem do desenvolvimento e aprofundamento eodem sensu eademque sententia da doutrina católica.
Ainda em tempo de grande convulsão teológica e filosófica, tal como o que vivemos, e que não se resume à esfera teórica, mas afeta a vida católica em todos os seus níveis, é preciso ter grande esperança e certeza de que o combate é possível e de que a vitória pertence à boa filosofia, à boa teologia e à fé católica.
É preciso olhar para o estábulo de Belém. Está ali o Rei dos reis, o Menino Deus que governa todas as coisas. Ele é misericordioso e é o Senhor da História. Como agiu naquela noite, Ele age hoje dispondo tudo suaviter et fortiter, de modo a aumentar a glória da Santíssima Trindade. Portanto, esperança no bom combate pela doutrina e moral católicas. E ao olhar para o estábulo vemos também Nossa Senhora, aquela que não só combateu as heresias, como as esmagou todas.
Feliz e Santo Natal.
Pe Daniel P Pinheiro
NOTA
Os artigos publicados nessas páginas não têm fim polêmico, mas têm por escopo propiciar aos leitores um olhar objetivo e profundo sobre os assuntos tratados, a partir do exercício da legítima liberdade teológica acordada a certas matérias. É evidente que não há aqui qualquer pretensão de se substituir ao Magistério da Igreja, a quem cabe a palavra final em matéria de fé e moral, bem como nas matérias intimamente conexas com a fé e a moral.
É evidente, outrossim, que os trabalhos aqui expostos exprimem tão somente a opinião particular de seus autores e não engajam as instituições de que possam fazer parte.