Apresentamos abaixo a tradução do pronunciamento do Cardeal Heenan, de Westminster após ter assistido à Missa Normativa em 1967 durante o Sínodo dos Bispos. A Missa Normativa é substancialmente a mesma que foi promulgada dois anos depois, em 1969, por Paulo VI. O Consilium citado no texto é o organismo para a implementação da reforma proposta pelo documento sobre a liturgia – Sacrosanctum Concilium – do Concílio Vaticano II. O pronunciamento é interessantíssimo e aborda questões fundamentais.
“Como todos os bispos, ofereço meus sinceros agradecimentos ao Consilium. Seus membros trabalharam bem e deram o melhor de si. Não posso deixar de conjecturar, porém, se o Consilium, como se encontra agora constituído, pode satisfazer as necessidades de nossos tempos, pois a liturgia não é, primariamente, uma questão acadêmica ou cultural. Ela é, acima de tudo, uma questão pastoral, pois diz respeito à vida espiritual de nossos fiéis. Não conheço os nomes dos membros do Consilium ou, ainda mais importante, os nomes de seus consultores. Todavia, após estudar a assim chamada Missa Normativa, pareceu-me claro que poucos deles possam ter sido padres de paróquia. Não consigo conceber que alguém com experiência pastoral possa considerar a Missa Cantada como sendo de primeira importância.
Em nossos países (at home), não são somente as mulheres e as crianças, mas também os pais de família e jovens homens que vêm regularmente assistir à Missa. Se nós tivéssemos que lhes oferecer o tipo de Missa que vimos ontem na Capela Sistina (uma demonstração da Missa Normativa) teríamos, em breve, uma assistência majoritária de mulheres e crianças. Nosso povo ama a Missa, mas é à Missa rezada, sem o cântico de salmos e outros embelezamentos musicais, que eles estão principalmente apegados. Eu humildemente sugiro que o Consilium avalie quem são seus membros e conselheiros para ter certeza de que o número dos que vivem em seminários e comunidades religiosas não exceda o número daqueles que têm experiência pastoral com o povo nas paróquias comuns.
Aqui estão alguns poucos pontos que somente por razão de tempo – já que apenas cinco minutos são autorizados para comentários – devem ser assinalados tão brevemente a ponto de soarem bruscos.
- A regra da oração é a regra da fé. Se houver maior ênfase, durante a Missa, nas leituras da Bíblia do que na oração Eucarística, a fé tanto do povo como do clero será enfraquecida.
- Há hoje mais necessidade do que nunca de se salientar a Presença Real de Nosso Senhor no Santíssimo Sacramento. Nenhuma mudança que pareça colocar em dúvida essa doutrina deve ser feita na Missa.
- Muitos bispos deste Sínodo falaram sobre a necessidade de vir ao socorro dos fiéis inquietos e perturbados por causa das muito frequentes mudanças na Missa. Devo, então, perguntar que atitude o Consilium tomará com relação a essas advertências dos pastores da Igreja? Confesso com toda seriedade que estou preocupado, pois os liturgistas podem dizer: “Esses bispos não sabem nada de liturgia.” Seria trágico se, depois da volta dos bispos para casa, suas opiniões não fossem levadas em conta.
- Na minha diocese de Westminster – e em muitas dioceses inglesas – a regra é que pelo menos uma Missa seja celebrada em latim em todo domingo. Seria uma grande ajuda se o Consilium pudesse dizer para toda a Igreja como a língua latina pode ser preservada. Se a Igreja quer permanecer verdadeiramente a Igreja Católica, é essencial conservar uma língua universal.”
(DAVIES, Michael. Pope Paul’s New Mass. Angelus Press, 1980, Third-printing, 1982, p. 111)